O café e a saúde do fígado

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O café é a bebida mais consumida do mundo e é amplamente conhecido por seu sabor, aroma e efeitos estimulatórios. Ele ganhou grande destaque em pesquisas recentes por comprovada redução de mortalidade e, desde então, vem sendo investigado em uma série de doenças, como Diabetes tipo 2, Doença de Parkinson e claro, nas doenças hepáticas.

A composição química do café é muito variada, sendo influenciada por inúmeros fatores como a espécie de café, a torra, o processamento e o método de extração. Apesar de a cafeína ser a substância mais conhecida que o compõe, ela é apenas uma dentre as suas mais de 1000 substâncias e, possivelmente, não é a mais importante, uma vez que outras bebidas cafeinadas não oferecem os mesmos benefícios.

Nas pesquisas mais recentes, foi observado que o café possui uma alta concentração de antioxidantes, apresenta importante efeito contra fibrose, formação de células neoplásicas e atua como estimulador da autofagia celular (que promove renovação celular). Da mesma forma, no tecido hepático, ele produz redução da inflamação e consequentemente da formação de fibrose, nas doenças hepáticas em geral. O consumo de café foi associado a níveis mais baixos de enzimas hepáticas, principalmente em pacientes com alto risco de doenças hepáticas como sobrepeso, diabéticos e portadores de hepatites virais.

Os estudos relacionando hepatite B e o consumo do café são ainda limitados. Já a relação entre o vírus da hepatite C e o café foi melhor estudada, evidenciando inibição replicação viral diretamente relacionada a dose de consumo. Vários estudos reforçam o efeito protetor do consumo de café na Hepatite C crônica seja com ou sem tratamento, inclusive com melhor tolerância ao tratamento.

Um dos efeitos mais importantes do café está relacionado a Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) mais conhecida como Esteatose hepática ou “gordura no fígado". Estudos robustos mostram seu efeito protetor em relação a deposição gordurosa hepática, além de redução de fibrose e cirrose. O efeito benéfico do consumo do café ainda pode ser observado na Síndrome Metabólica, importante fator para desenvolvimento a Doença hepática gordurosa, sendo reforçado pela redução observada em dois de seus componentes: obesidade e resistência a insulina.

Após longo período de investigação sobre o efeito do café nos diferentes tipos de doenças malignas, ficou evidente o efeito protetor exercido pelo café na neoplasia hepática (hepatocarcinoma). De acordo com a dose consumida, os estudos trouxeram redução de 40% a 72% na incidência de hepatocarcinoma, sendo maior no consumo elevado de café (> 3 xícaras ao dia).

O efeito protetor contra a progressão de grande parte das doenças hepáticas foi percebido a partir de 2 xícaras de café por dia (que corresponde a 10 g de café moído ou 5 g de café instantâneo), com incremento até 4 a 6 xícaras por dia. Consumo de até cerca de 400 mg de cafeína ao dia ainda é considerado seguro. Então, vamos preparar a térmica? Vamos com calma, apesar de muitas vantagens é importante lembrar sobre os efeitos colaterais possíveis do consumo do café e que estão diretamente relacionados com a dose ingerida, como por exemplo dor de cabeça, insônia, palpitações, tremores, agitação, mal estar gástrico e até mesmo dependência química. Foram relatados também efeitos adversos severos com uso de cafeína, com sintomas cardiológicos e neurológicos como alucinações, convulsões, arritmias, além de complicações cardiovasculares (principalmente se consumo > 300 ml/dia).

Ainda precisamos de mais estudos para confirmação do efeito final do consumo do café em cada uma das doenças hepáticas, dose indicada e efeitos adversos, principalmente quando pensamos em estabelecer tratamento específico. Entretanto, é fato que uma relação direta com a saúde hepática foi estabelecida e temos boas perspectivas de mais um adjuvante no seu arsenal terapêutico.

Alimentação e bem-estar